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“o nome Gustavo Ribeiro, a descrição do elemento…..”  Zerovinteum é música de quando Black Alien fazia parte da banda Planet Hemp. Em 2004 lançou “Babylon by Gus – o ano do macaco“, seu primeiro disco solo, e mostrou o que era um dos melhores letristas do país, um pé em Chico e outro em Sabotage.

O disco entrou pro pódio do rap. criou expectativa pelo que viria a seguir. “Quem que caguetou?“, produzida por Tejo Damasceno, estourou na Europa e EUA. o público continua na espera pelo segundo disco. histórias de que ele estava numa bad por causa do vício pipocam. corta os dreads. o disco não sai. seu parceiro, Speedfreak, morre violentamente. crowdfunding pra produzir o segundo disco. lança uma e outra música. volta trabalhar com Alexandre Basa, produtor do primeiro disco, para o segundo volume do seu diário babilônico. Lança a faixa Terra.

A montanha russa da sua trajetória alterna qualidade artística e dependência química, como ele conta na série “No princípio era o verbo”.

 

Limpo, Black Alien se apresenta hoje em São Paulo, no Audio Club, com participação de B.Negão, Jorge du Peixe e Rael.  Essa semana, enquanto se preparava para o show, gentilmente falou comigo por telefone:

1. Como você situa esse show na sua trajetória?
“Eu toquei numa banda com grande público, as vezes dez, as vezes cem mil pessoas na plateia. Como artista solo é um momento novo não só pela quantidade de público (a casa permite até três mil pessoas), a partir do momento que comecei a cuidar da minha saúde, minha carreira está se ajustando junto. Eu tô trocando de pele, vendo o mundo por outra ótica.”

2. Por que fez a série? Pra que se expor dessa maneira?
“Eu senti necessidade de explicar, dar uma satisfação do porque da demora do disco.O publico cobrando de maneira direta, às vezes grosseira nas redes sociais, gente perguntando “cadê a merda do disco?”.
Luciana Rabassallo propôs a reportagem quando falei com ela dessa resposta que precisava dar. A demora (no segundo disco) está diretamente ligada a outra necessidade, a de recuperar a saúde, tive de parar e me recuperar para fazer o disco.
A minha dependência química já era publica, então falar sobre ela abertamente é parte do processo de superação. Sou um artista, posso atingir o público de uma maneira positiva, dar o exemplo. No video falei o que está acontecendo comigo.”

3. Como esse processo afeta sua maneira de compor ?
“Continuo me reconhecendo nas letras, o que mudou foi o processo. Antes eu escrevia uma letra em uma hora, hoje o processo é mais lento, faço um verso em um dia, outro no dia seguinte.
As metáforas também estão mais dúbias, a mesma frase tem diversas interpretações. Quando eu canto “olhar para você me faz crescer” pode ser uma ereção ou um estado de espírito.
Estou cantando meu momento, mais sensível, enxergando as coisas como elas são. Tá mais fácil fazer letra de amor que falar de política. É difícil ver o momento atual e não ficar tenso, puto, querer tomar remédio, ter que fazer respiração pra acalmar. Não to escrevendo sobre esse assunto por isso.

4. Como foi a escolha dos convidados para o show?
“Convidei os três porque admiro eles como pessoas e como artistaa. Tenho boas histórias com os três. O Rael não é da minha geração, Bernardo e Jorge são pessoas que já conheço há duas décadas.
É tranquilo decidir o repertório, deixo o convidado escolher o que quer cantar. Com o Bernardo vamos fazer uma dele e duas do Planet, com Jorge vamos fazer duas de Chico Science e Nação Zumbi, uma da Nação pós Chico e “U-Informe”. Rael escolheu “Na noite se resolve” e vamos fazer uma dele. E todo mundo volta no bis.”

Pergunto do set list do show, ele diz que não estava fechado e que “Terra”, a última faixa lançada, vai ser tocada com certeza. Não garante o que mais pode entrar.

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MiniFlashback: o ano era 1998, Bahia, um ano em que o planet se apresentou algumas vezes em Arraial d’Ajuda. Black Alien descia a ladeira versando sem parar, sem respirar. A velocidade de associação nas palavras impressiona, assim como a doideira.

Durante muito tempo Gustavo foi o desperdício de um talento único por conta de sua condição de saúde. Hoje, pra mim, é noite para recuperar esse grande artista.

Nasci para bailar: Swing + Rock selecionados por DJ Marky

2000 era o ano. Ele gravava cds para a gente ouvir no carro, a caminho das duas ou três festas que tocava por noite no fim de semana. Marky, o DJ mito do drum’n’bass, é generoso quando se trata de suas paixões.

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Transformei a compilação de samba rock, samba jazz, bossa nova e afins que ele gravou para dividir sua coleção e conhecimento numa faixa só, disponível no mixcloud e soundcloud.

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[Os discos de Doris e Miltinho, presentes na compilação.]

Com o placar de 12 x 8, Marky nos deu a revanche de 1997,
 quando Deep Blue ganhou de Kasparov. 
Das 20 músicas, Shazam! só conhecia 8. 
A cada trecho de quinze segundos, ele me dizia a faixa e o autor.  

Credito a ele o horizonte que enxergo hoje na música brasileira, 
até então confinado ao pop rock herdado da mãe, 
música sertaneja do pai e uns badabauês da adolescência.

Hoje ele toca pela primeira vez no Bar Secreto, em São Paulo, 
com sua noite "Influences" onde o homem abre o case.
 Difícil rolar  "Doris e Miltinho", em compensação o que
 couber no set de seis horas vai te fazer dançar e sorrir.

Busta envelheceu bem

Você talvez tenha ouvido sobre o show do Busta Rhymes em São Paulo por conta do teto do local ter caído e machucado uma pessoa, quanto alguém pisou no forro. Pausa reflexiva: que raios alguém fazia no forro?   Busta e Spliff Star começaram a versar “Oh Shit there’s a guy on the roof” alertando a platéia sobre o que acontecia. Eu, confesso, tava tão animada com o show que achei que era performance.

Busta é um dos maiores versadores americanos, nasceu em NY e ficou conhecido pela velocidade absurda em que rima.

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Quando soube do Converse Rubber Tracks, não acreditei que poderia assistir ao cara que cantava enquanto eu crescia. Mas isso dá um frio na espinha de qualquer fã, recentemente ouvi uma faixa dele com Eminem, mas como Mr. Rhymes estaria? Seria um show de um morto que esqueceram de enterrar? Bom, tinha Chet Faker de show de abertura versão Deluxe, então sabia que ruim a noite não ia ser. Foi melhor do que eu esperava, mesmo com a história deprê do teto caído.

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Agora em formato de feijão, e comento porque tinha todo um porte malhado, Busta continua o mesmo cara. Aos 42 é acima de tudo o mesmo fanfarrão, capaz de versar sobre o cara pendurado no teto e trolar a platéia. Em determinado momento ele pergunta o que fazer para as mulheres dançarem, emendando um trecho do Seven Nation Army remix de FM. Será que ele tinha deixado de ser MC pra ser animador de show de navio? Aí ele interrompe o DJ, olha pra platéia e diz, “pára, vocês sabem como Busta faz uma mulher se mexer”, e emenda “I know what You Want”. Ponto.

Com seus mais de vinte anos de carreira, tocou sucessos “Woo Hah!”, “Put Your Hands Where My Eyes Can See” e músicas novas, como Calm Down 2.0, em parceria com Eminem. Continua fiel ao hip hop que o levou ao estrelato, tira a camisa, bebe champagne, diz que a festa não vai acabar. Ele, um dos caras que espalhou o “boucing” e “barking” no rap, que não teve pudor em fazer música com Mariah Carey ou Linkin Park, mostrou na voz que a precisão da lírica não se afetou com o tempo. Senti falta de Dangerous, It’s a Party, Gimme Some More, mas pra um show de pouco mais de uma hora, foi ótimo.

Aquele homem imenso no palco, cantando, feliz com o público pra ele, deixou em mim a sensação que o tempo passa pra todo mundo, mas pra alguns ele corre de maneira mais tranquila. Naquele momento, tempo passado não era conceito.

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novo amor na música: Willis Earl Bell

Estou com as muitas abas abertas como de costume. Passo pelo Pigeons & Planes e paro nas melhores músicas da semana. A primeira é um tal de Willis Earl Bell, a música “Too Dry to Cry”

Em um segundo o mundo se quebra e sou obrigada a parar tudo para ir atrás desse nome, desse homem, dessa voz. A nota indica que esse é o segundo single de seu segundo álbum, ainda a ser lançado, “Nobody Knows”.

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Nascido em Chicago com um quê de vagabundo nato, Willis foi dispensado do exército, chegou a viver sem teto e a ser guarda-noturno entre outros bicos, até conseguir que sua música fosse ouvida.

Distribuia flyers desenhados a mão com seu telefone e endereço de email e os dizeres  “My name is Willis Earl Beal. Call me and I’ll sing you a song. Write to me and I’ll draw you a picture.” (meu nome é Willis Earl Beal, ligue-me e eu cantarei uma canção. Escreva-me e eu desenharei para você).

Em outros desenhava um auto-retrato e dizia-se a procura de uma namorada. A revista Found, feita com objetos encontrados nas ruas, achou um destes flyers, publicou na capa e ainda fez uma entrevista com ele:

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Nessa época, 2009, ele vivia na casa de sua avó e a revista ficou tão impressionada com a resposta de seus leitores à franqueza e estranheza daquela personalidade que lançou uma edição limitada de cds com algumas gravações que ele tinha feito na sua própria casa. O reconhecimento trouxe mais shows. Em 2011 assinou com a XL Records e lançou seu primeiro disco, Acousmatic Sorcery, disponível nos sites de streaming, em 2012.

A faixa Evening’s Kiss foi escolhida como single, e o vídeo é assinado por ele. 

The Book of Nobody é o tumblr que ele mantém com seus desenhos e o novo disco sai em dez de setembro. No momento ele está de viagem marcada para a Europa depois de sua primeira turnê norte-americana.

Sua música triste e doce, soul de primeira, introspectiva sem ser depressiva, como uma pequena e tímida festa, suas apresentações ao vivo são muito elogiadas e bem vivas, sua voz rouca, seu soul fazem de Willis Earl Bell meu novo amor na música.

DJ Marky responde

Há algumas semanas entrevistei DJ Marky para a coluna GPS que mantenho na OiFM.

Conheço Marco Antonio da Silva há mais de dez anos, da época em que ia balançar o corpo semanalmente nas noites de 5afeira no club Lov.e . É um bom contador de histórias e por isso separei alguns trechos que ficaram fora da entrevista original para postar aqui.

Além da técnica e do bom gosto musical, sempre impressionantes, Marky tem um carisma que garante um lugar no top 10 dos melhores djs do mundo em qualquer lista séria. Ele toca drum’n’bass porque ama o gênero mas é capaz de discotecar até samba-rock.

Foi com 15 ou 16 anos que participou do primeiro campeonato de djs e nunca mais parou. É comprador compulsivo de vinis e já perdeu a conta dos que tem. Ouve muita música negra americana – soul, funk, motown e james brown, jacksons, e sempre presta reverência ao dj que foi sua maior referencia,  Ricardo Guedes (“porque ele tocava muito, eu falava que precisava tocar melhor que ele”)

Já quis tocar instrumento, coisa que nunca conseguiu, e então veio o encantamento com a idéia de ser DJ. ” O lance mágico pra mim era como você colocar uma música em cima da outra sem alterar a velocidade, depois o que me fascinou era ter a percepção de que eu tinha que tocar uma música que tenha a mesma melodia que a outra sem as pessoas perceberem a passagem, a maneira como se executa a mixagem é uma coisa fascinante…”

Qual foi o último disco que você ouviu?

“O novo do Edi Rock, bom pa caralho, fui na galeria e comprei ”

Qual a música que você tem mais tocado?

“No momento é o remix que eu fiz pro Robert Delong – Global Concepts [DJ Marky’s F***in’Dance Mix]”

 

e a gente batendo papo via skype

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Pagotapes

Conheci Dj Nyack na gravação do novo programa de TV que estou fazendo – conto mais sobre o programa em breve –  e caímos num papo sobre música…assunto vai, assunto vem e ele conta que outra noite, numa festa que faz às 4afeiras no Sarajevo – a Discopédia –  encerrou seu set com um bom pagode tocado no vinil.

Começamos a conversar sobre pagode e o quanto essas músicas estão impregnadas no inconsciente, que muitas vezes a gente não faz idéia da música ou do autor, mas todo mundo sai cantando junto. Nas palavras dele “todo mundo tinha pelo menos cinco músicas que sabia cantar”. Esse foi um dos motivos para fazer seu primeiro mixtape de pagode, o PagoTape, que ele gravou em dezembro de 2010 (não consegui achar, posta ela de novo, Nyack!), e a inspiração foi justamente a nostalgia da adolescência. A memória afetiva que o ritmo traz – ele cresceu nos anos 90, época em que o pagode era onipresente nas rádios, tvs e em qualquer mídia nacional – é grande: “ao ouvir você lembra até das vinhetas da rádio que os caras soltavam em cima da música”.

A primeira PagoTape fez tanto sucesso que chegou a ser postada no Twitter do Netinho e do Péricles.

Dois anos depois ele se animou a fazer uma segunda PagoTape (amo o nome), postada em 30 de abril . As músicas são todas mixadas (aê DJ!), e já que tem muita gente emocionada com a participação do Raça Negra amanhã na Virada Cultural, sugiro um play no mix abaixo pro esquenta

 

UPDATE: atendendo a insistência dessa que vos escreve, Nyack mandou o link da primeira PagoTape! Sensacional!

12 anos de DFA

 

sou fã de carteirinha da Red Bull Music Academy, a escola para djs, produtores e cantores que trabalhem com música eletrônica em qualquer vertente. Há mais de dez anos a marca mantém a Academia itinerante que já esteve em  SP, Melbourne, Seattle, Madrid e a cidade ganha por tabela, durante o mês que a RBMA acontece, um calendário especial de festas, shows, documentários e eventos muito bacanas.

Grandes produtores e artistas apresentam palestras e alguns chegam a trabalhar com os “alunos”. Esses, vindos de diferentes pontos do mundo, ganham hospedagem e alimentação além de passar parte do dia imersos em estúdios, tocando em gigs, produzindo música.

O documentário sobre os doze anos do selo DFA foi produzido pela RBMA desse ano, que está hospedada em NY e acontece até o fim de maio. Hoje tem festa com o Four Tet tocando. Alguém invente o teletransporte, por favor.